REVISTA RUMINANTES
#58 | jul. ago. set. 2025

CLEVER CLOVER

PASTAGENS E FORRAGENS

Com uma longa trajetória ligada à terra e à inovação, João Paulo Crespo fala-nos do percurso que o levou da gestão de uma herdade familiar à criação da Clever Clover, uma marca que aposta na qualidade, na investigação e no apoio aos produtores. Nesta entrevista, partilha a sua visão para o futuro das pastagens e da pecuária, e o papel que as sementes podem ter numa agricultura mais sustentável.

Por RUMINANTES | Fotos CLEVER CLOVER

INTRODUÇÃO E PERCURSO PROFISSIONAL

Pode contar-nos como começou a sua carreira no setor agrícola e, em particular, na área de sementes?
Comecei a trabalhar na agricultura muito cedo. Tinha 18 anos e coube-me a missão de ficar à frente da Herdade dos Esquerdos, que tinha sido herdada pela minha mãe. Não havia mais ninguém na altura e, ou se arrendava ou se vendia a exploração. Assumi o desafio e aqui fiquei, com escassos meios e a ajuda de um par de empregados antigos. Deixei outros caminhos, como a Medicina Veterinária, onde nem cheguei a candidatar-me. Depois veio uma fase muito estimulante na adesão à CEE. Fiz vários projetos de investimento: barragens, cercas, prados e multipliquei por quatro o efetivo de ovinos, quando toda a gente fugia das ovelhas. Mais tarde, em 1990, comprei os primeiros ovinos de leite, atividade desafiante e com riscos, que temos conseguido gerir, criando valor.

Em 1990, fundei, com o meu irmão, a Fertiprado, com base no conhecimento de prados do meu pai, que foi chefe do departamento de forragens na ENMP/INIA, em Elvas e que, entretanto, estava em comissão de serviço na FAO e afastado das atividades familiares.

Foram anos de muitos desafios, na gestão de uma equipa jovem e de valor, com a qual fomos desenvolvendo novas atividades, novas competências como a internacionalização do negócio e a construção de marcas que se tornaram referências do mercado. Foi um desafio cultural e profissional que conseguimos vencer.

Nessa altura, o azevém só era conhecido no norte de Portugal. Os prados estavam muito mal reconhecidos e não existiam as misturas anuais. Este novo conceito vingou e, com ele, criaram-se várias marcas.

Que aspetos da sua experiência anterior considera essenciais para o trabalho que faz hoje?
Sempre fui empresário e a minha principal função foi agregar pessoas que partilhassem os desafios e lutassem por eles. Ao longo da vida, senti diversas vezes a necessidade de recuperar forças e colocá–las nas atividades de que mais gosto. Essa resiliência é assim como as sementes duras dos prados. Mesmo que as adversidades da seca se prolonguem por vários anos, há sempre uma reserva de boa-vontade, no solo, que permite que recuperem, pelas condições ambientais e pela força da natureza própria. E é assim que me vejo.

CLEVER CLOVER: MISSÃO, VISÃO E DIFERENCIAÇÃO

Porque escolheu este nome — Clever Clover?
Escolher o nome de uma marca é um desafio. As duas palavras são parecidas e fáceis de fixar. Clever Clover é, traduzido para português, Trevo Inteligente. Os trevos são inteligentes! Têm sementes duras para se garantirem no futuro. Vivem em simbiose em colaboração recíproca. E é assim que a marca pretende ser. Dar o que pode!

Como definiria, em poucas palavras, a missão da Clever Clover no mercado de sementes de forragens e pastagens?
A marca Clever Clover está focada no mercado de sementes forrageiras, de culturas de cobertura de solo e de rotação. São produtos baseados em conceitos que bem conhecemos, tais como os diversos tipos de exploração, solo e clima em que trabalhamos.

A nossa missão é criar uma marca que seja reconhecida pela sua qualidade, pela satisfação de clientes distribuidores e produtores agropecuários.

A produção agropecuária está em rápida e profunda mudança. Se é certo que há menos área de sementeira em virtude da expansão do olival, do amendoal e dos painéis fotovoltaicos, também sabemos que a produção pecuária de ruminantes tem novos estímulos, pela exportação de ovinos e bovinos com preços muito interessantes, recuperando o interesse dos produtores pelo investimento em pastagens e forragens. Os ruminantes são, fundamentalmente, consumidores de erva.

A instalação de prados permanentes voltará a ser uma prioridade e estes não são caros! Convém fazê-los bem feitos, com as espécies e variedades adequadas. São mesmo baratos, tendo em conta que podem melhorar os solos, assim como a quantidade e qualidade da erva. São a forma mais barata de alimentar os animais e permitir que os efetivos aumentem de forma sustentável.

As culturas forrageiras anuais para pastoreio e para corte são importantes. São culturas de rápido arranque para pastoreio no inverno. Algumas são mais versáteis e permitem pastoreios contínuos, outras são direcionadas para feno ou silagem. O que é importante é a qualidade nutricional dos produtos no momento do consumo.

O que diferencia a Clever Clover das outras empresas de sementes nesse mesmo segmento?
O mercado de sementes forrageiras é composto por um conjunto de empresas. Cada uma tem os seus valores, as suas estratégias e posicionamentos. É assim em todos os setores de atividade económica.

A Clever Clover tem o seu foco no desenvolvimento de parcerias com distribuidores. Trabalhamos em muitas regiões de Portugal e Espanha e vamos expandindo a nossa posição, certamente porque os agricultores ficam satisfeitos e os distribuidores confortáveis com a relação.

Estamos a construir uma marca, no respeito de todas as outras marcas.

Qual é a importância de investir em I&D (investigação e desenvolvimento) para a Clever Clover?
A I&D é, sem dúvida, um pilar importante. Trata-se de uma questão cultural que poucas empresas praticam. A I&D não tem de ser a união de um conjunto de entidades que beneficiam de alguns fundos para desenvolvimento. Muitas vezes, está desenquadrada das necessidades e, com frequência, os resultados dos projetos extinguem-se quando o projeto termina. Os projetos são avaliados mais pelos recursos que consomem do que pelos resultados obtidos e, quase nunca, pelo impacto que efetivamente deviam ter na economia agrícola.

A I&D deve ser uma atitude de melhoria contínua, uma corrida de fundo por estafetas, onde cada conhecimento passa o testemunho a outros que lhe possam dar vida renovada e maior valor.

Na Clever Clover, damos particular importância à avaliação das espécies e variedades, semeando e comparando em exploração própria e nalguns clientes.

É nosso intuito o melhoramento contínuo, escutando o agricultor.

TECNOLOGIA, SUSTENTABILIDADE E DESAFIOS ATUAIS

Como a Clever Clover tem vindo a adaptar-se às alterações climáticas e às variações meteorológicas que afetam pastagens?

A questão das alterações climáticas está na ordem do dia. Sem dúvida que vivemos anos extremos, alguns de secas severas e outros na generosidade da chuva como tem sido este.

Os prados permanentes são os que mais contribuem para mitigar os efeitos das alterações climáticas, pelo aumento da matéria orgânica e fertilidade dos solos, redução da erosão e presença de sementes duras que permitem que as espécies permaneçam após vários anos adversos.

Todos estes atributos se aplicam às culturas de revestimento de solo, principalmente as arbóreas em sebe que devem ter as entrelinhas protegidas.

Tanto os prados permanentes como as culturas de revestimento garantem uma melhor vida no solo. O mais importante é semear as misturas adequadas pela sua persistência e biodiversidade.

Existem novas variedades ou tecnologias (por exemplo, cultivares melhoradas, inoculantes, fertilizantes específicos) que estejam a ser lançadas em breve?
Não iniciámos, ainda, os processos de obtenção de variedades. É uma atividade bonita, estimulante, mas que requer estrutura e mais meios dos que dispomos. Virá a seu tempo.

O mercado de sementes de pastagens e forragens tem evoluído, aumentando a diversidade genética por lançamento de mais variedades. Noutras espécies, há uma redução de oferta que importa contrariar, pois é importante poder contar com diversas opções genéticas.

Nas tecnologias de inoculação, estamos a trabalhar com as tecnologias recentes do mercado europeu. Esta é uma matéria de enorme importância e que deverá evoluir. Estamos atentos e atuantes.

Pode falar-nos de algum projeto-piloto ou estudo de campo que tenham implementado para validar essas inovações?
Temos sempre avaliações na nossa exploração de ovinos de leite, cuja alimentação principal são as pastagens e forragens. São animais de alta produção e temos um sistema de gestão de informação que nos permite saber o impacto dos maneios e dos consumos de determinada forragem na produção de leite. As ovelhas leiteiras são excelentes cobaias de laboratório. Interpretar como respondem os animais às diversas dietas é importante. Afinal, os animais são os nossos consumidores finais.

MERCADO E TENDÊNCIAS

Como vê a evolução do mercado de sementes forrageiras em Portugal, e até na Europa, nos últimos anos?
O mercado de sementes forrageiras será mais interessante se o mercado de produção de ruminantes o estimular. Assim, será a produção de ruminantes e a rentabilidade que esta possa alcançar que servirá de estímulo aos desenvolvimentos do setor das sementes forrageiras.

Na Europa, vivemos muito dependentes das políticas agrícolas, frequentemente contraditórias que, sem grande suporte técnico, nem enquadramento económico, temos mesmo que praticar.

Neste momento, na pecuária de ruminantes, o estímulo principal é o dos preços pela procura dos mercados do médio oriente e norte de África. É uma situação em que o mercado gera maior valor que a política agrícola.

Quais as principais exigências ou preocupações dos vossos clientes neste momento?

A marca Clever Clover ainda é jovem, mas tem experiência.

O mercado agropecuário tem muitos desafios diferentes. Um produtor do Minho tem necessidades diferentes de um produtor do Alentejo. E é no entendimento das diferentes realidades e necessidades que colocamos a nossa atenção e conhecimento. Produzir melhor e mais barato são as naturais expetativas de um setor profissional, que está sempre condicionado pelas políticas e pelos desafios da oferta global.

Trabalhar com os agricultores na construção de vantagens competitivas é uma missão que nunca termina, mas que se renova a cada ano.

Qual o papel da formação técnica (workshops, cursos, publicações) na relação entre a Clever Clover e os produtores?
Não temos tido muita atuação pública, no que refere à participação em eventos, cursos ou workshops ou feiras.

Temos mantido um estreito contato com a nossa rede de distribuidores e vamos observando o feedback do mercado, que tem sido positivo.

PLANOS PARA O FUTURO

Quais são os objetivos estratégicos da Clever Clover para os próximos 3 a 5 anos
Estamos otimistas em relação à evolução da pecuária nos próximos anos e acreditamos na importância do nosso trabalho.

Alcançar o reconhecimento da marca Clever Clover pela qualidade dos produtos, pelo conhecimento e posicionamento realista, pela relação de confiança com os agentes do setor, agricultores, distribuidores, fornecedores e outras entidades.

Que desafios maiores prevêem enfrentar no futuro?

A concorrência é feita por muitas empresas nacionais, ibéricas e de outros países com competências e estratégias diferentes.

Os mercados externos são uma oportunidade e desafio da marca Clever Clover. Queremos crescer na exportação e estamos a fazê-lo.

As questões regulamentares condicionam muito a agricultura. O setor das sementes não é exceção. As empresas de sementes estão bem representadas na ANSEME e creio que a relação com as autoridades é de colaboração e entendimento. Somos um setor formal e regulado, reconhecido.

Que conselhos daria a um produtor que ainda não conhece as soluções da Clever Clover?
O que posso sugerir é que experimente os nossos produtos.
As relações das marcas com os clientes constroem-se passo a passo. Tudo leva o seu tempo. Persistimos na determinação.

Como imagina o futuro da agricultura regenerativa e do pastoreio rotativo em Portugal?

As pastagens são um fator de produção importante para a pecuária, para os solos e para o ecossistema. Os animais são os agentes principais e os que geram rentabilidade das pastagens.
Os pastoreios rotacionais ou contínuos devem servir as necessidades de maneio do produtor. Cada exploração é um caso.
Os conceitos de pastoreio regenerativo que agora se promovem não são novos, mas apenas mudaram de nome. Redenominar os conceitos parece ser importante para renovar a atenção ao que já se conhecia.

Falando em preservação, sou um adepto praticante da sementeira direta de forragens anuais e para melhoramento dos prados permanentes. Estas devem ser feitas antes das chuvas de outono, garantindo que a semente fica tapada para reduzir o ataque das formigas. É fundamental que as sementes germinem antes ou ao mesmo tempo das que já estão no terreno. Em solos com sementeiras diretas de anos anteriores e com a estrutura orgânica melhorada por prados mais antigos, a sementeira direta funciona muito bem.

Além das vantagens para o solo, a sementeira direta é a única que se faz com uma só passagem de trator. O consumo de gasóleo é cerca de 20% do da sementeira convencional. Como a terra não é mexida e fica firme, o gado pode entrar em pastoreio um mês depois da emergência das plantas. E estes são benefícios relevantes para além do melhoramento da estrutura dos solos e do sequestro de carbono, e dos créditos de mercado que se possam vir a receber.

Gostaria de deixar alguma mensagem aos nossos leitores?
Que semeiem as misturas e as sementes Clever Clover. Que saibam que apostamos na qualidade, na adequação e num posicionamento competitivo. A marca está a crescer e vai liderar.